Uma situação que me ficou na memória, no estágio de Medicina Geral e Familiar do 6ºano, foi a consulta de acompanhamento de gravidez de uma adolescente de 14 anos. Estranhei a postura do meu tutor na abordagem da utente: distante, menos preocupado do que o normal em conversar com a utente, em fomentar a relação médico-doente…
Tive oportunidade de abordar a adolescente sobre o seu contexto familiar, as suas expectativas, o incidente da gravidez não programada e a tomada de decisão em a manter. Impressionou-me bastante imaginar a repercussão que este acontecimento irá ter na vida de uma adolescente ainda em crescimento físico e mental. Por outro lado, o impacto familiar e social será enorme. Obviamente a vida da utente e da sua família terá mudado para sempre no momento em que decidiu avançar com a gravidez. Espantou-me também a imaturidade da rapariga, não por o seu comportamento ser anormal para a idade, mas porque não é comum conversar com uma grávida com aparência e mentalidade de criança.
Finalizada a consulta tive oportunidade de debater com o meu tutor o caso e compreender o silêncio da sua parte durante a consulta. Fiquei a saber que a jovem rapariga, quando deu pelo atraso da menstruação, se dirigiu ao SAP na procura de uma “pílula do dia seguinte”. Nessa altura, encontrou o meu tutor que a informou e esclareceu que esse método de contracepção de emergência já não era possível, mas que tendo em conta o número de semanas de gestação ainda seria possível proceder à interrupção voluntária da gravidez (IVG), se essa fosse a vontade da utente. Acontece que uma rapariga com esta idade ainda é dependente da autorização paternal e por isso foi necessário contactar os pais para avançar com o processo de IVG. Este envolvimento veio gerar um volte face na vontade da adolescente, tendo se decidido na altura prosseguir com a gravidez.
Na minha perspectiva houve aqui uma imposição clara da vontade paternal que contrapôs a vontade inicial da adolescente. É verdade que da conversa rápida que tive esta me pareceu imatura e com pouca capacidade para decidir por si própria, mas penso que neste tipo de situações o sistema deve ter uma resposta pronta e informar e apoiar a família de uma maneira mais incisiva. Numa situação destas, penso que a vontade dos pais não se pode impor à vontade inicial da filha, condicionando a sua vida de forma irreversível.
Hum…estás a querer lançar a polémica?? 😛
By: Magda on 24 Julho 2009
at 08:46
Mesmo querendo, ou não, “lançar a polémica”, é bom que estes assuntos venham a público. Independentemente das confissões de cada um, o assunto é por demais delicado e melindroso para ficar omisso sobretudo mos meios clínicos.
Um problema gravíssimo está subjacente: a falta de formação, séria e atempada, dos jovéns no seio da famíla e nas escolas.
By: Isabel Pereira on 17 Fevereiro 2010
at 18:44
Toca num ponto importante. A formação dos jovens.
Dada a tendência social para a “super-protecção” infantil, cada vez mais os jovens demoram mais a amadurecer mentalmente, enquanto o seu corpo continua a amadurecer sexualmente na mesma idade…
By: Elektro on 17 Fevereiro 2010
at 23:31
Por essa razão é mais necessária e urgente uma boa formação. Não basta a informação. Isso já têm demais! O importante é saber utilizar a informação. Só o conseguirão com uma boa formação na Escola e na Família. Uma formação dirigida à inteligência e ao bom senso faz “amadurecer mentalmente”.
Peço desculpa pela insistência.
By: Isabel Pereira on 21 Fevereiro 2010
at 19:14